A dúvida de “Qual é a melhor de reposição hormonal?” é uma das mais comuns entre mulheres que estão entrando na menopausa. Com tantas opções disponíveis — comprimidos, adesivos, géis, implantes, hormônios “naturais” ou manipulados, é normal surgir dúvidas sobre qual caminho seguir.
A boa notícia é que a medicina evoluiu muito. Hoje, temos alternativas mais seguras, eficazes e variadas. Mas a escolha do tipo ideal de reposição hormonal precisa ser feita com cuidado, avaliando sua saúde, sintomas, objetivos e estilo de vida.
Neste artigo, explico quais são os principais tipos de reposição hormonal, como funcionam, suas indicações e cuidados. Também te ajudo a entender o que realmente faz uma reposição ser considerada “a melhor” para você.
O que é reposição hormonal?
A terapia de reposição hormonal (TRH) ou terapia hormonal da menopausa (THM) é o tratamento que utiliza hormônios para aliviar os sintomas causados pela queda hormonal que ocorre no climatério e na menopausa. Ela pode melhorar significativamente sintomas e sinais como:
- Fogachos – ondas de calor
- Ressecamento vaginal
- Sintomas emocionais e de flutuação de humor como irritabilidade ou tristeza
- Dificuldade para dormir
- Perda da libido
- Alterações cognitivas (memória, concentração)
- Infecções e sintomas recorrentes do trato urinário
- Redução da densidade óssea (osteopenia/osteoporose)
Além de aliviar os sintomas da menopausa, a reposição hormonal, quando iniciada no momento certo, pode trazer benefícios importantes que provavelmente você nem imaginava. Ela ajuda a reduzir o risco de doenças cardiovasculares, como infarto, diminui as chances de câncer de endométrio e também de câncer colorretal. Sim! Diminui o risco desses cânceres, você não leu errado.
Além disso, está associada à redução de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e demências e contribui para uma melhora significativa no controle do metabolismo.
Ou seja, não se trata apenas de amenizar sintomas, mas de cuidar da sua saúde de forma mais ampla, já que a Terapia de Reposição Hormonal está associada ao aumento da longevidade em diversas pesquisas
A reposição hormonal evoluiu — e muito
Grande parte dos receios de muitas mulheres e um dos motivos de tanta dúvida de qual é a melhor reposição hormonal, vem de estudos antigos, realizados com formulações mais antigas e com populações específicas “não ideais”. Hoje, a maioria dos hormônios utilizados evoluíram em sua formulação e muitos são “bioidênticos”, ou seja, têm estrutura molecular idêntica aos hormônios produzidos pelo corpo humano.
Essas evoluções garantem melhor tolerância, maior eficácia e mais segurança no uso a longo prazo, especialmente quando a terapia é bem indicada, acompanhada de perto e iniciada dentro da chamada janela de oportunidade (nos primeiros anos após a menopausa).
Qual é o melhor tipo de reposição hormonal?
A resposta curta que eu poderia dar é que depende individualmente de cada mulher e envolve muito discernimento do médico na escolha correta.
Mas existem muitos fatores que bons médicos devem considerar para chegar ao melhor formato de tratamento. Hoje há diversas formas de reposição que podem ser utilizadas, e para você ter a noção do quão complexo é encontrar a reposição ideal, explico abaixo as principais formas de reposição e suas particularidades:

1. Reposição hormonal transdérmica: a mais segura
A via transdérmica, que é aquela aplicada na pele por gel, adesivo ou spray, é a mais recomendada para a maioria das mulheres. Entre os benefícios estão:
- Não aumento do risco de trombose e eventos cardiovasculares.
- Absorção assegurada e controlada.
- Absorção direta pela microcirculação da pele gerando níveis mais estáveis do hormônio.
- Não sobrecarrega o fígado, pois não faz a “primeira passagem hepática”.
- Menor influência na produção da “proteína ligadora de hormônios sexuais” (SHBG), o que significa menor risco de interferência negativa na sexualidade.
- Pode ser usada mesmo em mulheres com fatores de risco moderado.
É a via preferida para a reposição de estrogênio, na sua forma de estradiol, e pode ser usada de forma isolada (em mulheres que não têm útero) ou associada à progesterona (para quem tem útero).

2. Reposição hormonal oral: pode ser indicada em casos selecionados
O uso oral do estradiol (em forma de comprimido) ainda é uma opção válida, mas deve ser indicada com mais cautela. Ele passa pelo fígado e pode ter maior impacto sobre a coagulação sanguínea e elevação de triglicérides.
Então, para que a via oral seja considerada a melhor opção para você, é preciso entender particularidades do seu contexto de vida. Mas ela pode ser uma ótima escolha para a reposição hormonal quando:
- Há boa tolerância ao uso
- Não existem fatores de risco para trombose
- O custo reduzido favorece a manutenção do uso
- Preferência da paciente por essa via, trazendo aderência e facilidade de uso
- Há necessidade de ainda manter o efeito contraceptivo associado
- Há níveis de colesterol muito altos, pois a via oral contribui para sua redução
- Se há queixa de redução da libido, o uso da tibolona oral pode ser uma escolha com bons efeitos.
Importante destacar que quando a formulação oral é escolhida, o comprimido indicado será, em vários aspectos, diferente dos anticoncepcionais tradicionais, que normalmente já não são mais bem indicados na fase do climatério. Existem formulações orais específicas para esse momento de vida, inclusive garantindo o efeito de proteção de gravidez.

3. Progesterona: muito importante para quem tem útero
Se você tem útero, a reposição hormonal com estrogênio deve sempre ser acompanhada da progesterona. Esse é um ponto essencial para proteger o endométrio (o revestimento interno do útero) e evitar alterações que, a longo prazo, podem aumentar o risco de câncer no útero. Ou seja, a progesterona entra como um verdadeiro escudo, garantindo que o tratamento seja não só eficaz, mas seguro.
Hoje, temos algumas formas seguras e bem estudadas de fazer essa parte da reposição. Entre as melhores opções, está a progesterona natural, também chamada de bioidêntica, por ter estrutura idêntica à do hormônio produzido pelo nosso próprio corpo. Seu principal benefício é o perfil de segurança em relação ao risco de câncer de mama, eventos trombóticos, cardiovasculares e efeitos metabólicos. Ela também melhora o sono e tem efeitos positivos sobre humor e cognição.
A progesterona natural pode ser usada por via oral ou vaginal, e essas são as vias com estudos mais sólidos comprovando sua segurança. Já quando manipulada para ser usada na pele, em forma de cremes ou implantes, não há evidência suficiente de proteção endometrial, o que faz essa forma não ser recomendada para esse objetivo. Cuidado nesse ponto! É frequente esse erro na prática.
Uma alternativa muito prática e eficaz, especialmente para quem está na transição da menopausa com sangramentos irregulares e até intensos, é o DIU hormonal (Mirena). Ele protege o útero por até 5 anos e ainda ajuda a controlar o fluxo menstrual, o que traz bastante conforto.
Outra opção é o uso de adesivos que já vêm com os dois hormônios juntos: estradiol e progesterona. Isso facilita muito a rotina de quem busca praticidade, e também é uma escolha segura. Fique atenta a diferença: nesse caso, a progesterona é sintética (não natural), mas não vai ter a primeira passagem no fígado, o que faz o adesivo mais seguro que a via oral quando usamos progesterona sintética.
Também é fundamental que a dose da progesterona esteja ajustada à quantidade de estradiol usada. Quanto maior a dose de estrogênio, maior deve ser a proteção do endométrio. Esse equilíbrio entre os hormônios é um dos fatores que garante a escolha da melhor reposição hormonal, sem riscos desnecessários.
— Quantos dias usar cada hormônio?
A escolha de quantos dias você vai usar os hormônios depende de em qual fase da menopausa você está, das suas preferências pessoais e seu histórico clínico.
O estradiol é sempre usado todos os dias e o que varia são quantos dias de progesterona. Quando iniciamos a reposição hormonal combinada (com estrogênio e progesterona), podemos seguir dois esquemas de uso que chamamos de:
- Cíclico, quando optamos por usar a progesterona apenas em parte do mês. Essa pode ser a escolha para quem está na transição da menopausa, ainda sangrando, pois, esse esquema favorece uma menstruação regular, diminuindo um dos principais incômodos dessa fase que é a irregularidade menstrual.
- Contínuo, os dois hormônios são usados todos os dias. Essa é a opção mais usada em quem já não tem mais a menstruação pois, o uso diário favorece a manutenção da ausência total da menstruação e evita variações hormonais desfavoráveis.
O mais importante é respeitar seu momento, seus sintomas e sua rotina, para garantir conforto e segurança ao longo do tratamento.

4. Implantes e hormônios manipulados: cuidado com os riscos e falta de segurança
Nesse ponto, preciso ter uma conversa honesta com você. Há um crescente apelo comercial em torno dos implantes hormonais e dos chamados bioidênticos manipulados, muitas vezes vendidos como “naturais” ou “melhores”.
Mas é importante saber que:
- Implantes não têm ajuste de dose após colocados.
- Os implantes manipulados não têm respaldo de seu uso nas maiores e melhores sociedades médicas mundiais.
- Manipulados podem variar na dose, absorção e controle de qualidade.
- Muitas vezes os implantes contêm hormônios que você não precisa e que podem até representar um risco a sua saúde.
- Bioidêntico não significa que precisa ser manipulado — existem opções bioidênticas com registro aprovado, seguras e amplamente estudadas.
Ou seja, bioidêntico não é sinônimo de manipulado. E o uso indiscriminado de implantes ou fórmulas manipuladas pode trazer mais riscos do que benefícios.
Por quanto tempo posso fazer a reposição hormonal?
Essa é outra dúvida muito comum no consultório.
A verdade é que não há um limite rígido de tempo. O uso pode ser mantido enquanto os benefícios superam os riscos, e isso é avaliado caso a caso, de maneira minuciosa, em reavaliações regulares, que levarão em conta o histórico da paciente, a idade da menopausa, características físicas e o estado de saúde atual. Muitas mulheres seguem com reposição hormonal segura por anos, com grande impacto positivo na saúde, desde que acompanhadas de forma regular por ginecologista especialista em menopausa.
No final das contas, o que realmente define a melhor reposição hormonal?
A melhor reposição hormonal é aquela que:
- Usa os hormônios realmente necessários e com evidências reais de benefícios para sua saúde.
- É bioidêntica, segura e com respaldo científico.
- Tem a via mais adequada para o seu histórico de saúde.
- Leva em conta seus sintomas, fase da vida e objetivos pessoais.
- É prescrita com critério, atualização e acompanhamento médico constante.
Mais do que escolher entre um gel, um comprimido ou um esquema de dose baixa ou alta, é preciso olhar para você como um todo. O cuidado na menopausa é individual e precisa respeitar sua história, seu ritmo e sua saúde.

Recapitulando:
A reposição hormonal é, sim, uma grande aliada na menopausa, quando bem indicada!
Hoje, contamos com opções modernas, seguras e altamente eficazes para aliviar sintomas e proteger sua saúde a longo prazo.
Entre as principais vias:
- Transdérmica é a preferida por segurança
- Oral pode ser usada com critério
- Progesterona é essencial para quem tem útero.
- Implantes não são indicados
- Manipulados devem ser usados apenas nos casos em que não há disponível a dosagem indicada, em fórmulas aprovadas.
Se você está no climatério ou na menopausa e deseja entender qual reposição é melhor para o seu caso, agende sua consulta com um especialista em Climatério e Menopausa. Cuidar da sua saúde com informação, segurança e responsabilidade é o que faz toda a diferença nessa fase.